Maltávia, 200 anos após a grande
guerra. A cidade já não é mais a mesma, não é mais o esplendoroso reino de Eras
Antigas, ao contrário, é a caricatura distorcida dos ideais dos antigos reis,
os Paladinos de Lotsley.
Em algum lugar deste reino um
menino corre nas sombras dos becos, seus pés descalços deixam sua marca na
lama, mostrando que ele passara por ali, ao mesmo tempo que lhe proporcionava a
passada leve que ele precisava para andar escondido. Esgueirando-se entre as
quitandas e as caixas do mercado ele conseguia pegar, às vezes, sua comida para
passar o dia. Sua rotina era uma rotina era a mesma de muitos que viviam no
submundo do Forte Sul, se esconder e lutar por comida. Normalmente é uma
batalha que tem muito sofrimento e pouca recompensa, as vezes você tem sorte e
consegue roubar uma fruta velha ou um pão seco nas barracas do mercado. Isso
são raras ocasiões. O mais comum é ter que brigar com algum outro garoto de rua
pelos restos jogados no lixo. A cidade tem seu próprio mundo suburbano, Steeve
era o mais forte da ala sul perto dos portões. Ele mandava no pedaço por lá.
Todos os garotos de rua tinham medo dele e obedeciam suas regras. Steeve era
mal e gostava de bater nos outros somente para mostrar que era mais forte e
pelo bel prazer de humilhar os outros.
Um dia ele se deu de frente com
um garoto novo no pedaço. Steeve andava com sua turma de praxe: dois puxa sacos
aproveitadores e uma garota fazia qualquer coisa por um pedaço de comida. O novato,
por não saber de quem se tratava, nem deu importância a sua pessoa e continuou
a procurar comida no lixo da padaria. Steeve sentiu que o garoto lhe havia
faltado com respeito por não ter saído correndo com o rabo entre as pernas e
partiu para cima dele. Seu grupo cercou o garoto e começou a lhe espancar sem
dizer uma palavra. Após 10 minutos de linchamento, o garoto não havia dito nada,
apenas se encolhido e aceitado as pancadas. Steeve e seu grupo foram embora
frustrados.
O menino então se ajeitou e
revelou seu tesouro: um pedaço de pão ainda fresco que havia queimado por fora (o
suficiente para perder seu preço na padaria), mas o suficiente para ficar
delicioso quando se tirasse aquela casca. Sven havia salvado seu tesouro e seu
dia.
Por muitos anos Sven viveu nesse
submundo e, diferente de Steeve, não tentava humilhar e se aproveitar dos mais
fracos. Ele sempre teve algo dentro de si que o compelia a ajudar aqueles que
não conseguiam.
Ainda criança, foi levado pelos
mãos de Tyr para as escolas sacerdotais. Com o seu rápido desenvolvimento
espiritual e intelectual, logo foi levado para os Catequim.
Numa de suas peregrinações, Sven
foi para Nova Maedar. Numa viagem, foi atacado por assaltantes e ficou
seriamente ferido. Um velho viajante chamado Baalen o socorreu, tratou suas
feridas e o acolheu em seu modesto abrigo em Madras. Este senhor cultua os
deuses antigos que os Mãos de Tyr consideravam deuses pagãos. Para Sven, foi um
choque encontrar tamanha grandeza espiritual em um pagão. Neste choque surgiu a
curiosidade, que logo se tornou em admiração. O sábio acolhia algumas crianças
de rua, doentes e dementes e os tratava com todas as suas forças. Além disso,
trazia histórias confortantes dos antigos deuses e do seu amor para com as
raças de Maedar. Para ele, não era a igreja ou Tyr que salvavam, mas o amor e a
caridade.
Ainda quando estava debilitado, o
monge começou a ouvir vozes e ter visões. Baalen lhe explicou que ele era um
Iluminado, e o que acontecia com ele nada mais era do que reflexo de sua alma
em contato com o plano espiritual e com outros Iluminados. Só o
autoconhecimento e a meditação o ajudariam a encontrar as respostas sobre
aquela questão. Respostas que viriam naturalmente.
Sven acabou encontrando a paz que
precisava, as respostas que lhe permeavam a cabeça e que sua crença não
respondia, além de uma diretriz para o seu coração. Sua fé em Maltávia era
imposta e ali era natural. Ele nunca mais regressou aos Mãos de Tyr e hoje vive
como ajudante de Baalen.