10 de out. de 2016

CONTOS DE UM ANÃO

POR VOLTA DE 5.800

Na árida Allamak, mais precisamente em um pequeno vilarejo próximo da Região das Minas, nasceu um anão chamado Belugondur. Quinto filho de uma rameira, Belugondur foi criado em um casebre próximo ao local de trabalho de sua mãe. Obviamente, seu pai não era conhecido, e como era muito feio, diziam que ele era a mistura de todos os homens que sua mãe se deitara nos meses de gestação. Era esquálido, talvez pela subnutrição e por quase não ter mamado, mas era alto para os padrões de sua raça e muito chorão.

Ainda bebê o anão foi entregue aos cuidados da irmã mais velha, Rurda. Sua genitora não podia perder tempo com “distrações”, afinal o que os sustentava era o seu ofício e seus clientes adoravam os fartos seios com leite da anã. Rurda foi o mais próximo de amor maternal que teve e ele a amava muito. Todavia fosse relapsa, alcóolatra e uma péssima mãe, existiam momentos em família naquele lar. A genitora contava histórias da lendária montanha dos anões conhecida como Bjerg Dvellum e de outros locais de Maedar e lendas que ela mesmo ouvia de seus clientes e dos viajantes da taverna.

O vilarejo não tinha nome e era muito mais um grande acampamento dos mineradores do que outra coisa. Por ser bem próxima da entrada de uma mina, a população era predominantemente masculina e vivia da extração de minérios (que seriam enviados para a cidade de Tabit, a noroeste das montanhas). O local era perigoso, sujo e pobre e a lei era definida pelos mineradores. A exploração, entretanto, não era grande ali, pois todos os habitantes estavam em pé de igualdade social e financeiramente, quer fossem humanos ou anões.

A rameira anã e seus filhos viviam em um pequeno casebre de barro próximo à taverna do vilarejo. Belugondur era muito judiado pelos vizinhos e pelos próprios irmãos. Mesmo morando praticamente na sarjeta e em meio a pessoas pobres e de baixa criação era considerado estranho, burro e feio. Ele preferia ficar dentro do quente casebre sozinho brincando com sua coleção de pedras e guardando cada vez mais rancor dos seres a sua volta. Cada pedra recebeu uma personalidade que logo interagia com ele e com seu mundo.

Um dia saqueadores destruíram seu lar e a família passou duas luas dentro de uma gruta (descoberta por um dos irmãos) a duas milhas da casa antiga, próximo ao Deserto Negro. Seus irmãos mais velhos reconstruíram o casebre enquanto o garoto tinha pesadelos com o assalto. Ele estava totalmente assustado e choramingava até não poder mais. Era uma criança covarde, medrosa e melindrosa.

Neste período ele passava ainda mais tempo sozinho e a interação que antes era com as pedras, tornou-se dentro de sua cabeça. A revolta em ter medo fazia com que brigasse consigo mesmo, pois tinha um certo senso de justiça dentro de si. As conversas mais para frente se tornaram discussões e então vozes alheias aos seus pensamentos e raciocínios começaram a florir em sua mente, influenciando a criança em diversas circunstâncias de sua vida. O vilarejo não tardou a taxá-lo de louco.

Durante sua adolescência ele profetizou a morte de sua mãe. Uma doença venérea a atingiu e então seus parentes ficaram assustados. Uma coisa é um irmão louco, outra totalmente diferente é um “amaldiçoado”, pensavam eles. A família era pedinte, mas como o caçula se tornava cada vez mais louco aos olhos da sociedade, perdera sua utilidade e se transformara em um fardo que os irmãos não podiam e queriam arcar. Rurda foi quem deu a ideia de expulsar o irmão mais novo de casa. Esta foi a primeira traição da vida de Belugondur e o marcou profundamente.

Expulso do lar e malquisto na sociedade, cheio de vozes na cabeça e de ódio no coração, Belugondur mendigou pela Região das Minas até conhecer Dummek, um anão minerador. Ele alimentou e conseguiu um lugar para o garoto nos sítios mineiros.

Belugondur cresceu e ficou forte. Ganhou o apelido “Feio” de seus companheiros mineradores. Sobreviveu e teve relativa paz neste período, mesmo que seu único amigo fosse Dummek. Vivia na antiga caverna da sua infância e conversava consigo sempre que podia, alheio ao mundo. Quando estava muito cansado, dormia na mina. A voz sensata que lhe visitava a mente lhe influenciou a juntar dinheiro, ir embora dali e quem sabe conhecer os locais que a mãe contava. A maligna sugeriu que ele matasse Dummek para conseguir as últimas moedas de ouro, mas se tem uma coisa que este anão é, é leal. Ou talvez fosse sua covardia que não permitisse.



Antes de sair da Região das Minas, o filho da rameira voltou ao seu antigo lar e, na calada da noite, se vingou de todos os parentes que o traíram. Ele queimou a casa com todos dentro.

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