POR VOLTA DE 5.800
Na árida Allamak, mais
precisamente em um pequeno vilarejo próximo da Região das Minas, nasceu um anão
chamado Belugondur. Quinto filho de uma rameira, Belugondur foi criado em um
casebre próximo ao local de trabalho de sua mãe. Obviamente, seu pai não era
conhecido, e como era muito feio, diziam que ele era a mistura de todos os
homens que sua mãe se deitara nos meses de gestação. Era esquálido, talvez pela
subnutrição e por quase não ter mamado, mas era alto para os padrões de sua
raça e muito chorão.
Ainda bebê o anão foi entregue aos
cuidados da irmã mais velha, Rurda. Sua genitora não podia perder tempo com
“distrações”, afinal o que os sustentava era o seu ofício e seus clientes adoravam
os fartos seios com leite da anã. Rurda foi o mais próximo de amor maternal que
teve e ele a amava muito. Todavia fosse relapsa, alcóolatra e uma péssima mãe,
existiam momentos em família naquele lar. A genitora contava histórias da
lendária montanha dos anões conhecida como Bjerg Dvellum e de outros locais de
Maedar e lendas que ela mesmo ouvia de seus clientes e dos viajantes da taverna.
O vilarejo não tinha nome e era
muito mais um grande acampamento dos mineradores do que outra coisa. Por ser
bem próxima da entrada de uma mina, a população era predominantemente masculina
e vivia da extração de minérios (que seriam enviados para a cidade de Tabit, a
noroeste das montanhas). O local era perigoso, sujo e pobre e a lei era
definida pelos mineradores. A exploração, entretanto, não era grande ali, pois
todos os habitantes estavam em pé de igualdade social e financeiramente, quer
fossem humanos ou anões.
Um dia saqueadores destruíram seu
lar e a família passou duas luas dentro de uma gruta (descoberta por um dos
irmãos) a duas milhas da casa antiga, próximo ao Deserto Negro. Seus irmãos
mais velhos reconstruíram o casebre enquanto o garoto tinha pesadelos com o
assalto. Ele estava totalmente assustado e choramingava até não poder mais. Era
uma criança covarde, medrosa e melindrosa.
Neste período ele passava ainda
mais tempo sozinho e a interação que antes era com as pedras, tornou-se dentro
de sua cabeça. A revolta em ter medo fazia com que brigasse consigo mesmo, pois
tinha um certo senso de justiça dentro de si. As conversas mais para frente se
tornaram discussões e então vozes alheias aos seus pensamentos e raciocínios
começaram a florir em sua mente, influenciando a criança em diversas
circunstâncias de sua vida. O vilarejo não tardou a taxá-lo de louco.
Durante sua adolescência ele
profetizou a morte de sua mãe. Uma doença venérea a atingiu e então seus
parentes ficaram assustados. Uma coisa é um irmão louco, outra totalmente
diferente é um “amaldiçoado”, pensavam eles. A família era pedinte, mas como o
caçula se tornava cada vez mais louco aos olhos da sociedade, perdera sua
utilidade e se transformara em um fardo que os irmãos não podiam e queriam
arcar. Rurda foi quem deu a ideia de expulsar o irmão mais novo de casa. Esta
foi a primeira traição da vida de Belugondur e o marcou profundamente.
Expulso do lar e malquisto na
sociedade, cheio de vozes na cabeça e de ódio no coração, Belugondur mendigou
pela Região das Minas até conhecer Dummek, um anão minerador. Ele alimentou e
conseguiu um lugar para o garoto nos sítios mineiros.
Belugondur cresceu e ficou forte.
Ganhou o apelido “Feio” de seus companheiros mineradores. Sobreviveu e teve
relativa paz neste período, mesmo que seu único amigo fosse Dummek. Vivia na
antiga caverna da sua infância e conversava consigo sempre que podia, alheio ao
mundo. Quando estava muito cansado, dormia na mina. A voz sensata que lhe
visitava a mente lhe influenciou a juntar dinheiro, ir embora dali e quem sabe
conhecer os locais que a mãe contava. A maligna sugeriu que ele matasse Dummek
para conseguir as últimas moedas de ouro, mas se tem uma coisa que este anão é,
é leal. Ou talvez fosse sua covardia que não permitisse.
Antes de sair da Região das
Minas, o filho da rameira voltou ao seu antigo lar e, na calada da noite, se vingou
de todos os parentes que o traíram. Ele queimou a casa com todos dentro.
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